Holocausto Brasileiro


      Foi num programa de TV que vi um documentário sobre um hospício criado no inicio do século passado onde milhares de pessoas foram vítimas de um genocídio.
       Logo me interessei pelo assunto por se tratar de uma barbárie que aconteceu tão perto de nós, e há tão pouco tempo, e que quase nada se foi divulgado pela imprensa.
      Daniela Arbex, jornalista e autora do livro, reuniu documentos, entrevistas de ex-pacientes e ex-funcionários, e testemunho de várias pessoas que presenciaram esse lamentável episódio da história do Brasil, e construiu essa obra fantástica repleta de informações.
      O livro contém não só textos, mas também dezenas de imagens revoltantes do cenário deplorável no qual milhares de pacientes do Colônia eram obrigados a conviver.
      O “trem de doido”, expressão usada por Guimarães Rosa em um de seus livros de contos sobre o Colônia, chegava cheia de pessoas, na maioria delas indigentes ou simplesmente pessoas que eram consideradas indesejadas pela sociedade, na estação Bias Fortes.
      Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, prostitutas, homossexuais, meninas que perdiam a virgindade antes do casamento, e até mesmo esposas que foram trocadas pela amante.
      A vida no hospício de Barbacena era sub-humana. Os pacientes eram obrigados a dormir em cima de palha, bebiam água do esgoto que passava no meio do pátio onde tomavam seu banho de sol. A comida era escassa e muitos sobreviviam comendo ratos e pombos. Suas roupas eram retiradas e a cabeça raspada. Muitos andavam completamente nus numa cidade onde a temperatura pode ser baixíssima no inverno.
      Os pacientes morriam de frio, de fome, de doenças e também por causa dos choques utilizados para acalmar os mais agitados.
      E isso é apenas um grãozinho de tudo o que você descobrirá lendo esse livro chocante, e tenho certeza que ele mudará sua visão em vários aspectos em relação ao sistema psiquiátrico do Brasil.